22 de fev. de 2008


Queridos Amigos.... O que foi feito da gente?


O nome não poderia ser mais apropriado para que de imediato eu relembrasse quem são estes, queridos amigos. Amigos que a política uniu. Se aos olhos alheios a união, a simbiose se justificava pelos ideais revolucionários, na intimidade dos olhos dos queridos amigos sabiam por que estavam lá... A série televisiva (atualmente veiculada na Rede Globo) escrita pela autora Maria Adelaide Amaral, que se utiliza de partes da história real, tem me feito pensar neles: Meus Queridos Amigos.

Na série, são amigos que na época da ditadura, ainda jovens se encontraram... Abro um parênteses para fazer minhas as explicações de Frei Beto sobre os encontros que temos e só o “destino” sabe que daquele momento uma história começa. Em seu livro Mosca Azul, ele dá esta explicação sobre o seu 1º contato com Lula:


“Há encontros fortuitos que tecem laços indeléveis. Ocorrem aos amantes, ao viajante que num porto depara-se com a grande oportunidade da sua vida; aqueles que se sentem premiados pela sorte porque por acaso, se achavam ali naquele dia e naquela hora e conheceram aquela pessoa.” (Frei Beto).


Lembrei dos queridos amigos que eu encontrei e que os nossos laços de afeto escondíamos sob o pretexto da política, da transformação social e da eleição da esperança.... Sob o pretexto das uniões, dos debates, do trabalho duro e incansável, estávamos juntos selando muito mais que os nossos planos para o país... selávamos laços de afeto, de amor, de querer bem. A força que move alguém na política é sempre a utopia. A utopia, pensando bem, foi uma confluência do destino para que nos encontrássemos e uníssemos os nossos medos, nossos sonhos e principalmente nosso acalento..


“A confluência é um dos predicados do destino. Em algum ponto movido por circunstâncias inesperadas, imprevisíveis, duas pessoas se encontram e a partir dali assumem uma trajetória comum. Um bar, uma festa, uma reunião, uma festa. Nenhum indício de que seus caminhos futuros haverão de se cruzar. É a lei da indeterminação, esse acaso que a fé chama de desígnio diverso, a astrologia decifra no movimento dos astros, os mais otimistas qualificam de sorte.” (Frei Beto).



No Movimento Estudantil, no partido, nos lugares em que trabalhei encontrei muitos destes queridos amigos... E hoje, quando a minha utopia igual a cantada por Milton Nascimento “Quero a alegria muita gente feliz,quero que a justiça reine em meu país..”, continua fazendo seus movimentos no meu coração, porém de forma mais realista (ou madura, talvez?), mais “nua e crua” e menos apaixonada.... eu me pergunto “o que foi feito da gente?”. Eu ainda os encontro. Muitos deles percorrem os mesmos caminhos que eu, outros nos esbarramos pelas esquinas e ainda outros sumiram....


Um dos trechos da série retrata a sensação que os Queridos Amigos tinham no passado de ser uma grande família. Por muitas vezes eu estive nestas famílias. Essa coisa de viver só pra gente, não desgrudar um só minuto, viver junto quase 24 horas por dia. Tudo pela Revolução!!!! Não.... era tudo pelo amor e um amor talvez contraditório aos princípios socialistas. Um amor egoísta de querer todo mundo sempre e pro resto da vida só pra gente. E estes amigos (os da televisão) percebem que é possível se reunir e unir-se novamente, pois são laços, como disse Frei Beto, indeléveis. Mas já não existe aquilo que os fazia mascarar o que tentavam esconder. Já não existe a utopia da Revolução e somente eles, realmente eles com suas realidades sem ilusões, suas realidades internas desmascaradas.


Enfim A Vida como ela é. O que foi feito da gente? Pra mim, uma utopia foi conquistada e rápido demais foi “desmascarada”. Ou melhor, sonhamos um sonho que não saiu do jeito que imaginávamos. Mas o que resta disso tudo? Resta o que é de verdade e que só cabe a nós. O amor e a amizade uns pelos outros. Resta sempre uma cerveja no boteco, um abraço forte e demorado, as conversas nostálgicas e por fim tentar esquecer a vida nua e crua que a gente anda vivendo. Vida muitas vezes confortável, fácil, mas sem a pitada dos sonhos sonhados todos os dias, juntos. A cada troca de olhar destes nossos encontros, a gente sabe que tá faltando alguma coisa....

"Quero a liberdade, quero o vinho e o pão, quero ser amizade, quero amor, prazer..quero nossa cidade sempre ensolarada.."

Mas eu desejo que cada um de nós carregue no peito a alegria dos encontros, os nossos laços eternos de amizade, e que as utopias- as pequenas (pra ser mais realista, agora) sejam diariamente renovadas. Eu desejo que nossas lembranças de vez em quando retornem, nos deèm mais garra nessa vida, que nos façam sorrir e que a gente se lembre da gente sempre "sem perder a ternura".
Nada será como antes...
Eu já estou com o pé na estrada
Qualquer dia a gente se vê
Sei que nada será como antes, amanhã
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Alvoroço em meu coração
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
Num domingo qualquer, qualquer hora
Ventania em qualquer direção
Sei que nada será como antes amanhã
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Sei que nada será como está
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol

15 de fev. de 2008

Meio-a-meio


Revolucionário de meia-tigela, desistiu de mudar o mundo com um projeto religioso.Desportista de meio-preparo, o medo do cansaço o segurou no vestiário.Namorado de meia-trepada, confundiu preliminares com falta de ares, atrapalhou-se com os botões e acabou-se em borbotões.E de metade em metade, viveu meios processos e resultados vazios. Mal saía, desistia de chegar.Buscou muitos encantos, encontrou poucas certezas: meio macho, meio frouxo, viveu meio perdido, se achou meio encontrado.Por fim, ficou louco no meio da rua querendo um meio de desempatar.Sem devaneio ou galanteio, perdeu o jogo no recreio e não saiu do meio-a-meio.

10 de fev. de 2008

PÁGINA VIRADA


Um dia o acaso colocou dois destinos frente a frente.
Nenhum dos dois sabia se aquilo era um começo
Quando já estavam no meio, souberam.
O fim nunca foi sequer esperado

Mas o acaso se perdeu
Os dois destinos também perdidos
Por não saberem mais o que fazer
Com aquele começo...
Pareciam a todo instante
Criar o fim.

Mas eram destinos...
Sempre destinos
Destinados a que?
Para ela, o amor
Para ele, ela não sabe.

Ela então, cansada
De criar novos começos
E novos finais (in)felizes
Desatou o nó.

Foi viver o seu inicio, meio e fim
Ela tinha esquecido que vivia uma história
Sua, toda sua
E ele?
....

Para ele, ela deseja
Históras felizes.
Agora, sem a sua companhia.
E ela?
....


Desfez todos os roteiros dos fins que se repetiam
Releu com carinho todos os capitulos da história
Do acaso e dos dois destinos
Chorou pela última vez
E prometeu:

"As próximas histórias terão traços leves, cores fortes e intensas, serão escritas em letras sinceras, amorosas e serenas. As páginas serão viradas sempre com a sensação da plenitude no coração. E a cada dia, o fim será apenas um abraço demorado, um beijo apaixonado e um adormecer de dois destinos que sabem a que se destinam: ao amor correspondido."


autoria: anacarolinacaldas