29 de dez. de 2009

VIVA OS NOVOS DIAS!

Eh Viva! Viva os novos dias que se aproximam! Saravá, Aleluia, Amém



1- Que cachoeira é essa que descansa meus olhos?


2- Que cachoeira é essa que mata minha sede?


3- Que brisa é essa que leva as gotas para a vegetação?


4- Que barulho é esse que me acalma e tranqüiliza?


5- Que aroma bom é esse?


6- Que água tão limpa é essa?


7- Quem é aquele velhinho sentado na pedra perto da cachoeira?




Temos somente a resposta da ultima pergunta:É PAI BENEDITO DA CACHOEIRA


Bondoso velhinho sentado em uma pedra a beira da cachoeira, sua pemba em meu corpo cicatriza as chagas de meu orgulho, suas mãos cansadas tocam meu sentimento e contornam minha mente, sua sabedoria esta na compreensão dos pedidos dos irmãos, sua reza guiam meus pés aos bons caminhos, protegidos pela sua doce imantação, minhas mãos estendidas em suplicas são tão pequenas quanto as luzes refletidas de seu corpo: Os ventos sopram as lagrimas transbordadas dos seus olhos sendo recolhidas e conduzidas por Mamãe Oxum derramando-as nas águas da cachoeira, regando as flores de alfazema!


Autor Emidio de Ogum




(Cachoeira São Joao da Graciosa 19/12/2009
Créditos foto: Gilson Camargo)

27 de dez. de 2009

Recado ao coração


Promete pra mim:
No ano que vem
Para de ser bobo
Teimoso e torce
Pro meu time
Joga ao meu lado
Faz ao menos um gol
Ganha uma partida
Ah! Coração
Andas na linha comigo
Me fez errar tanto,
Desperdiçar noites e noites
Tudo em vão
Ah! Coração
Aponta teu dedo
Aos que me olhem
Assim, com o respeito
Que você merece
Promete?
Vais me tirar estas algemas
Que me ligam aos que
Não tem coração!



8 de dez. de 2009

conversaentreamigas

Contra raiva, vacine-se

Hoje numa conversaentreamigas “dissertei” sobre a raiva. E a defendi raivosamente com unhas e dentes. Por ora, pelo menos neste momento, ela tem sido libertadora e positiva, além de mobilizadora. Tirando mobilizar copos, garrafas...que sinceramente não faz bem o meu tipo de raiva, tem mobilizado minhas defesas contra invasores do tipo que devem ficar bem longe, e você apenas se deu conta quando....Bem, isso não vem mais ao caso. Por que assim como as baratas – aqui neste caso é a raiva do tipo nojo, sim este tipo faz parte, voaram, os invasores “foram mobilizados para muito longe”! E por último, esta é a mais doída, raiva de mim. Essa dói. Por que afinal, você não vai bater nesta “pobrecriaturaindefesa” que é você, né? Nem pena, ter pena desta grandecriatura que é você!? Não! De jeito algum. O fato é que diante disso tudo você não sabe o que fazer com você. Ao final da conversa, minha amiga, que me deixou dissertar sobre a atual fiel amiga raiva, apenas me disse: Perdoe-se.


Ok, você venceu! Contra raiva, vacine-se!
Ei, não você ai que me deu muita mais muita raiva.
Quem venceu, fui euzinha aqui, ó!

Um nó só
Cheguei
E agora?
Não sei mais sair do labirinto !
No meio de um novelo
Que não tem fim
Todas as cores, emaranhados, agulhas,
Não vão a lugar algum
Ficam aqui enroscando
A vida, os pés, o coração
Eu, todinha.

Um dia desato esse nó.
E aí CE vai ver só.
Vai ficar só
E eu sumo no pó!

19 de set. de 2009

Quando a criança era criança



Quando a criança era criança
caminhava agitando os braços,
Queria que o riacho fosse um rio,
o rio uma torrente,
e esta poça, o mar.
Quando a criança era criança,
não sabia que era uma criança,
tudo lhe parecia ter alma,
e todas as almas eram uma só.
Quando a criança era criança,
não tinha opinião para nada,
não tinha costumes,
sentava-se com as pernas cruzadas,
corria sobre o solo,
tinha um redemoinho no cabelo,
e não saía mal nas fotografias.




Peter Handke

18 de set. de 2009

Remédio: Palavras

Palavras são sintomas....
E curam quando escritas com afinco
Elas descem da alma, arrebentam o sono
Dilaceram o ar que respiro
Soam estranhas, loucas, desvairadas
Todas emaranhadas
Cada qual vai
Sintoniza
Escreve
Cura
Vergonha alheia

De vez em quando eu falo isso, ou melhor, eu sinto isso. Pode parecer até um pouco arrogante, sentir vergonha alheia. Sentir constrangimento por algo que considero vergonhoso que o outro fez e tomo “as dores” do próprio, e eu sinto a vergonha por ele.... Mas enfim, sinto isso de vez em quando. Sabe aquela vontade de se enfiar dentro de um buraco ou mesmo se esconder debaixo do sofá por uma semana mais ou menos? Pois então, dá uma vontade louca de fazer isso, quando, por exemplo, assisto cenas constrangedoras de “gente importante” dando carteirada se prevalecendo de um cargo, status e não sei mais o quê para obter benefícios ou mesmo um lugar ao lado do "rei". Li sobre uma destas cenas hoje e me senti envergonhada de tal comportamento digamos “tão provinciano”. Provinciano... lembra o coronel da cidadezinha pequena, sabe? Que veio da mesma casinha do Seu Zezinho, mas acabou por indicação do Prefeito virando coronel e ai começou achar que tinha o rei na barriga, que era o dono do mundo. Começou a lustrar melhor as botinas para que ficassem diferentes dos “reles” moradores da província. Andava pelas ruas dizendo a todo mundo que agora “ele era amigo pessoal do prefeito”. Deste modo, era o único que tinha a honra de entrar e sair sem ser anunciado. Enfim, estas coisas que acontecem no melhor estilo provinciano.... Mas bem na verdade, acredito que o raciocínio não seja bem este....E sim, os valores que cultivamos ao longo da nossa história desenham nosso comportamento. Então, que cada um desenhe o seu, não é mesmo? Mas que as vezes da vontade de sair correndo, dá!

5 de set. de 2009

Esquadros



Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo
Cores!

Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção
No que meu irmão ouve
E como uma segunda pele
Um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Ai, Eu quero chegar antes
Prá sinalizar
O estar de cada coisa
Filtrar seus graus...

Eu ando pelo mundo
Divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome...

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm
Para quê?
As crianças correm
Para onde?
Transito entre dois lados
De um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo
Me mostro
Eu canto para quem?

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Adriana Calcanhotto
Composição: Adriana Calcanhoto

26 de ago. de 2009

Eu me pergunto
Da onde vem essa calma
Não combina
O ritmo das coisas
Indica...indicava
Turbulência.
Eu me refaço
Da onde vinha você
Não combina
O ritmo das coisas
Indica...indicava
Turbulência
Calma
Que é ela
Que me diz
Minha´alma
Acalma
Volta
O ritmo
Das coisas
Da onde
Você vinha
Turbulência
Da onde vem
Essa
Calma
Indica
Minha alma.
Sem você, calma.
É ela
Que me diz
Eu me pergunto
da onde você vinha?

24 de ago. de 2009

Parei, desci, enfim cheguei.

Não importa
Quantas ruas, pedras, portas
Só há pela frente, caminho
Agora, eu apenas busco
Paragens. Muitas.
Devagar, na sombra, sem lenço, sem documento
Com abraços, sorrisos, e choro, muito choro assim
como a chuva que lava o caminho, lava-se a alma
Com amigos, novos e velhos
Com o coração humilde, os olhos ávidos de mundo
Com as pernas apenas pra dançar, corpo todo pulsa vida
Assim, bem assim
É que se anda.

22 de ago. de 2009

RIFA-SE UM CORAÇÃO


de Clarice Lispector


Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste
em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um
pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste
de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração
que acha que Tim Maia
estava certo quando escreveu…
“…não quero dinheiro, eu quero amor sincero,
é isso que eu espero…”.
Um idealista…Um verdadeiro sonhador…
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a
esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando
relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer
sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome
de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional
que abre sorrisos tão largos que quase dá
pra engolir as orelhas, mas que
também arranca lágrimas
e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado
por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para
quem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendem
passar pela vida matando o tempo,
defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer
para São Pedro na hora da prestação de contas:
“O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo,
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e,
se recusa a envelhecer”
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por
outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate
tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda
não foi adotado, provavelmente, por se recusar
a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio,
sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence
seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta

16 de ago. de 2009

O ENCONTRO DAS MINHAS TIAS

Hoje minha madrinha foi continuar a vida, em paz, junto com os anjos. Nestas horas, vai passando um filminho e lembrei das mãos de “fada madrinha” da Tia Wilma. Ela fazia bonecas lindas de porcelana. Sempre foi linda, assim como as suas bonecas. No Natal, eu, minhas irmãs e primas sempre esperávamos para ver que surpresa de boneca ganharíamos. E eu, então? Afilhada! E foi desta lembrança que hoje eu tive mais saudades. Dos natais “enfeitados” pelas minhas tias. E lá estavam elas: Tia Lourdes e a Tia Antoninha, e espiando lá do céu, a Tia Neusa. Esse quarteto resume o que para mim, sempre foi o mais divertido, e também mais encantador nestes natais. Todo ano, o mesmo ritual da espera das irmãs chegarem uma a uma. E era inevitável que cada uma que chegasse tivesse uma piada pronta para outra. Lembrei da risada e voz rouca da Tia Wilma....Dos vestidos em tom rosa que ela sempre usava, dos pratos enfeitados, do jeito de andar dela - parecia que andava nas pontas dos pés. Lembrei das risadas e ironias entre elas. Mas também das lágrimas partilhadas, das preocupações e do carinho. No final da festa, elas brincavam e dançavam, e riam, choravam, brigavam e no final o que sobrava, para mim, eram as histórias contadas naquele natal .. Depois vinha outro, novas histórias. Voltei no tempo e me vi criança, olhando para aquela bagunça toda. A imagem que me vem é desse bom humor, apesar de tudo. A vida não foi fácil para nenhuma delas, assim como é a vida.... Às vezes, alguém com mais problemas, outros menos.... Porém, nada que um domingo com a mesa de café posta em uma das casas das tias não as fizesse passar o tempo, esquecer dos problemas ou mesmo colocá-los para fora. Mas a impressão que tenho é que elas vieram para essa vida com este objetivo: ter esse encontro, entre elas. Por isso, o ritual do café, dos natais, aniversários sempre foi tão especial....

Cada uma do seu jeito eu tenho aqui sempre comigo também como referência de mulheres, do feminino, da vida! A Tia Antoninha – a mais elegante, charmosa e a vida toda, nós – miniaturas de mulheres – tivemos dela o olhar atento, que era nada mais nada menos do que carinho pelas mulheres da família caldas. O olhar para como nossa alma se apresentava externamente para o mundo. Ela sim, impecável sempre. Vaidosa, cuidadosa e linda! Nunca me esqueço das unhas sempre vermelhas, o cabelo escovado e a roupa “ultima moda”. A Tia Antoninha, para mim, ali pequeninha olhando pra ela – sempre foi a tia que exalava perfume, lembrava jardim – mas também num relance a gente se deparava com os seus olhos redondos olhando pra gente, cuidando da nossa beleza e demonstrar assim o seu carinho por nós.

A Tia Neusa, a mais perspicaz, inteligente e que sempre teve as melhores tiradas, as ironias estaladas no silêncio da última conversa. Lembro da tia dançando Chico Buarque no meio da sala. Lá vai ela, de um lado pra cá, cigarrinho na mão, cantando “Vai Paaaasaaar”.... A Tia não deixava barato para nenhuma das irmãs. Às vezes ela sumia, dava uma descansadinha, despertava e se colocava a par das conversas ao redor da mesa, depois lá vinha com uma boa tiração de sarro apontada para uma delas. Todo Natal ela me desejava: um namorado bem bonitão e rico! Mas a parte mais engraçada era a dupla que ela fazia com a Tia Lourdes, dupla inseparável...

A Tia Lourdes, a caçula. A Tia eu sempre a tive na infância um pouco como mãe, por causa da convivência com a Cris, minha prima. Entre elas, sem dúvida a tia foi sempre a mais festeira – das cervejinhas, dos cafés na casa dela, da comilança e muita gente reunida. Nas brincadeiras das irmãs, a tia era sempre passada para trás... O pai a chama de faísca atrasada. Fica lá só “meditando” sobre a última piada feita a seu respeito. Por que, cá pra mim, a tia sabia deste segredo – que elas vieram para cá por causa deste encontro marcado.... Então, resolvia reuni-las para sempre prolongar este encontro.


Por viver no Rio Grande do Sul, pouco convivi com a Tia Antila, que também faz parte desta grande família. Dela tenho as lembranças das conversas com a família até altas horas da madrugada, da elegância da tia e do seu sorriso: Aberto e amoroso.


Com estas tias, aprendi adorar uma boa mesa de café e bater papo, desabafar e dar boas gargalhadas. Aprendi também amar mais minhas irmãs e, sobretudo, conservar o bom humor pra enfrentar essa vida!

Beijos nas tias todas
Tia Wilma, que os anjos a recebam

15 de ago. de 2009


Tudo esclarecido
Música: Itamar Assumpção
Letra: Alice Ruiz

tudo esclarecido entre as coisas e os seus significados o que se viveu tá vivido o assunto virou passado e o que passou tá esquecido entre as coisas esquecidas estão as melhores lembranças entre as coisas perdidas estão os grandes achados
Não é por aí

Música: Itamar Assumpção
Letra: Alice Ruiz

ia dizendo não é por aí o caminho mais curto acaba logo ali, acaba logo ali acontece que algum gesto ainda não foi feito hei, não vá saindo assim desse jeito pra que pressa? depois dessa outra história, outra transa, outra festa agora é tarde não está mais aqui quem falhou ia dizendo, não é por aí....

9 de ago. de 2009









































O MAIOR AMOR DO MUNDO




Meu pai.




22 de jul. de 2009


Ouvir o silêncio

Dia desses eu brinquei com as conchas aqui em casa. Isso, tenho mania de colecionar de cada praia, a que eu acho a mais bonita. As conchinhas do mar... Lembrei das brincadeiras de colocá-las no ouvido e escutar todo o mar. Todo o mar...que é o barulho do silêncio. Só com as conchinhas do mar que se pode ouvir o silêncio. A quietude que cessa a ansiedade ensurdecedora de falar, questionar, discutir, provar, duvidar, perguntar, julgar, opinar... E nunca ouvir. Dentro da concha há tantos mistérios silenciados. Ficar ali escutando todas as historias do mar, sentindo o cheiro do vento e deixando a água inundar a alma. Ouvir o silêncio. Sentir o silêncio. Chorar o silêncio. Sorrir, e agradecer o despertar do silêncio... Silenciar a quietude é ficar assim como a conchinha do mar, serena, encantada e é levada. Sem defesas se deixa levar e apenas oferece a música do mar que nem é dela.... Apenas aquieta, acalenta e ensina lição tão esquecida entre nós: doar. Esse fenômeno de “ouvir o mar” conhecemos como reverberação, a soma dos várias "ecos" produzidos dentro da concha. Assim a concha se parece com a alma, quando silenciada... Dentro da concha, as ondas sonoras repercutem, refletindo-se em cada uma das paredes, assim como a fala de alguém numa caverna. E assim é... Fui tão longe, tão longe e apreendi naquele exato momento que humanizar-se é se entender com a natureza, seus movimentos e principalmente suas belas lições. Não há nada de mais nessa minha vontade quase ensurdecedora de silenciar e apenas ouvir. Não há nada de mais, é tão natural, meu desejo de ser inverno e trazer o mar dentro de mim. Silenciar e sentir vibrar o coração com o sentimento maior do mundo: o amor. Amar também é apenas ouvir o silêncio. Assim como a concha, a concha e o mar...

21 de jul. de 2009

PazAmorPazAmorPaz


As perguntas me cansaram, tanto e tanto
Ainda bem. Cansaço que chegou a soterrar
Vontades, desejos, frescor, ânsia...
Cessaram todas.
Eram quase bengalas usadas na fuga
da realidade, umas vezes nua e crua, outras cheia de
fantasmas inventados
Elas, eu as execrei para todo o sempre
Amém. Agora sinto meu e o teu olhar
Sinto a respiração até do vizinho
E por que não...sinto que tudo pode
Até você se despedir.
Faz mal, não. Elas foram embora
E também foram os medos.
orgulho, a guerra.
Só paz.
Tao bom assim.
Se você me visse
Dizem as mais experientes
Encantaria, viria, procuraria
Agora que não há mais o que perguntar
Estou enamorada
desta paz que hoje
tomou conta de mim...
Se for assim , igualzinho a esta inundante paz
Então, venha devagarzinho
Sente-se ao meu lado
Faça-me sorrir
Respeite se o silêncio imperar entre nós
Abençoe-me com o seu abraço
Assegure-me que a paz são as tuas mãos que você
me dá ao anoitecer, quando há o perigo
ao amanhecer de todas voltarem
a me atormentar.
Caso contrário, pode ir, vá embora.
Pois é da paz que eu já tenho
que preciso em você.
Apenas siga
Pronto.
Tudo pronto
Pronto e pronto e pronto.
Meu amor, a vida vai
Vem, vai e vem.
Ninguém sabe por onde
Vai.
Apenas siga, correnteza
maré, pegadas na areia...
Apenas siga.
Respire e ponto
Tudo pronto
Pronto e pronto e pronto
Meu amor, a vida vai
Sem você
Se assim quiser
Ninguém sabe
Por onde
Vai.
Apenas siga...
Um dia vem.
Apenas siga






anacarolinacaldas

20 de jul. de 2009

Poema do Menino Jesus
de Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)


Num meio-dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.

Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.

Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas pelas estradas
Que vão em ranchos pela estradas
com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas.
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou —
"Se é que ele as criou, do que duvido" —
"Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansados de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
e eu levo-o ao colo para casa.

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales,
E a fazer doer nos olhos os muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?

Fernando Pessoa - Alberto Caeiro

28 de jun. de 2009

Calor de gente


Ei, você já pensou
Quantas pessoas ainda não conhece
Então! Vista o casaco e vá!
Tanta gente por ai
Que você vai ver só
Vai voltar pra casa
Encalorada com tanta história
Pra contar

26 de jun. de 2009

BRASIL SEM LADO, FICO AO LADO DO MEU IRMÃO

O que acontece quando a coisa ta toda errada
Mascarada, fadada, cansada, desgastada, ferrada!
Um jogo de cartas marcadas
Tantas cartas
E as nossas?
Como é que fica?
A Carta Magna, de identidade, de nascimento
A carta de motorista, a carta da vergonha na cara!
Fica assim, por isso mesmo?
Não tem diferença e eu que tanto acreditei
Um dia, juro acreditei
Que o Brasil tinha lado
Agora, é cada um por si?
Comigo não, corrupção!
Meu lado é do lado
Dessa gente que eu olho no olho
Que não se esconde atrás da retórica
Nem das malas, do dinheiro, muito menos da safadeza
Ao lado da vida simples lá de casa
Das lembranças da vó faxineira, do vô alfaiate
Ao lado da Carol, da Luiza, da Isabela e do Didi
Desejo a eles luz pra quando chegar a hora
Eles, com a força da terra, da fé e do amor
Possam, oxalá, mudar isso tudo
Por ora, TÔ cansada
Me deixem não acreditar mais
Vou embora, segurar na mão do meu irmão
Que me olha no olho
E me diz, pode confiar
Em mim, você pode confiar.



Ana Carolina

25 de jun. de 2009


SÁBADO: SIMPLES ASSIM

SÁBADO: SIMPLES ASSIM

SÁBADO: SIMPLES ASSIM

SABADO: SIMPLES ASSIM

SÁBADO: SIMPLES ASSIM


SÁBADO: SIMPLES ASSIM

13 de jun. de 2009

SÁBADO

Sol de sábado é a melhor coisa que existe
Curitiba friorenta e sol a esquentar tua caminhada
Pela Rua Xv, no parque, pára e mais um café
Esquenta mais um pouco, olhar desviado
É você, vem invadir meu santo sábado de todo dia
Música me protege, ando mais feliz
Rua do chorão, os bueiros sinistros, o ligerinho
Vento frio, casaso, cachecol tudo a esquentar
Tuas lembranças aqui bem dentro deste meu sábado
Céu todinho azul, só pra gente olhar
Curitiba confusa, que só ela, tem calma e multidão
Na esquina da Universidade e você nesta e em outra e mais outra esquina
Nostalgia de outros sábados, sem você.
O dia vira noite, é hora de abandonar a solitude que é remédio pra alma
Olhos, bocas, vozes, abraços misturados, noite fria. Curitiba
Hora de me encontrar.
Quem sabe,
te encontrar, também.
Antes que o sábado finde
E venha domingo descerrar as cortinas...

12 de jun. de 2009


Pessoaspresentes

Um amigo vale mais do que um milhão de amigos

A parte mais interessante da vida é conhecer as pessoas e principalmente agregar um pouco delas em nós. Por isto, aprendi e sempre está na ponta da língua uma resposta para “o que eu vim fazer aqui neste mundo!?”. Para encontrar todos os outros que estão por ai, buscando respostas. O mais bonito disso tudo é que as tais respostas nos são dadas nestas trocas. As respostas estão com as pessoas. Portanto, repito: a parte mais interessante da vida são as pessoas. Todas elas, sem exceção. Porém, existem as especiais. Estas vem como um presente, mesmo. Uma benção, uma alegria perene, e para mim, são aquelas que bastam. Como se em sua frente estivessem “um milhão de amigos”. O outro lado desta história, das “pessoas-presentes”....é o tal do acaso. Rever os caminhos que foram feitos para que vocês se encontrassem. Muitas vezes, aquela sensação “que parece que já nos conhecíamos há anos” nos faz esquecer inclusive “como tudo começou!?”. E lá vem histórias e mais histórias.

Pessoapresente, tão presente. Afeto, carinho, harmonia, encantamento, cumplicidade, amizade, fraterno. Tantas gargalhadas, lágrimas e tristezas compartilhadas. Tão bem compartilhadas. Tantas conquistas, dúvidas e obstáculos. Tudo sempre acompanhada da cumplicidade que é o nosso laço. Um amor de amigo que é minha família, meu irmão, dos mais importantes capítulos da minha história. Amigo que vale um milhão de amigos. Lá vem ele, sorrisão aberto, abraço de urso, olhar atento e a nossa velha companheira sempre entre nós, a cumplicidade. Pessoapresente embalada nesse papel colorido que é você!

Com ele aprendi a observar e usufruir esta parte mais interessante da vida. Aprendi o quanto a vida é boa quando prestamos atenção no melhor das pessoas. Aprendi e continuo aprendendo a dizer a esta nova pessoa, e aquela outra: “Seja bem vinda!”. Aprendi que as pessoas são a nossa melhor parte!

Valeu ae, Pessoapresente!

6 de jun. de 2009



"Útil" ao agradável


1. Os romanos tinham 3 tipos de beijos: o basium, trocado entre conhecidos; o osculum, dado apenas em amigos íntimos; e o suavium, que era o beijo dos amantes. Os imperadores romanos permitiam que os nobres mais influentes beijassem seus lábios, enquanto os menos importantes tinham de beijar suas mãos. Os súditos podiam beijar apenas seus pés.

2. Antigamente, na Escócia, o padre beijava os lábios da noiva no final da cerimônia de casamento. Dizia-se que a felicidade conjugal dependia dessa benção em forma de beijo. Depois, na festa, a noiva deveria circular entre os convidados e beijar todos os homens na boca, que em troca lhe davam algum dinheiro.

3. Na Rússia, uma das mais altas formas de reconhecimento oficial era um beijo do czar. No século XV, os nobres franceses podiam beijar qualquer mulher que quisessem.
4. Na Itália, entretanto, se um homem beijasse uma donzela em público naquela época era obrigado a se casar com ela imediatamente.

5. Beijo francês é aquele em que as línguas se entrelaçam. A expressão foi criada por volta de 1920.

6. Na linguagem dos esquimós, a palavra que designa beijar é a mesma que serve para dizer cheirar. Por isso, no chamado “beijo de esquimó″, eles esfregam os narizes.

7. Em 1909, um grupo de americanos que consideravam o contato dos lábios prejudicial à saúde criou a Liga Antibeijo.

8. Boatos no final do século XIX atribuíam à estátua do soldado italiano Guidarello Guidarelli, obra do século XVI assinada por Tullio Lombardo, o poder de arranjar casamentos fabulosos a todas as mulheres que a beijassem. Desde então, mais de 7 milhões de bocas já tocaram a escultura em Veneza.

9. Por causa do chefe de polícia de Tóquio, que achava o ato de beijar sujo e indecoroso, foram apagados dos filmes norte-americanos mais de 243.840 metros de cenas de beijos.

10. Oliver Cromwell, no século XVII, proibiu que fossem dados beijos aos domingos na Inglaterra. Os infratores eram condenados à prisão.

31 de mai. de 2009


Um tempo



Eu me permito hoje, só por hoje, desnudar-me nas entrelinhas das linhas mal ou bem escritas. Devaneios escondidos segredos não-revelados. Apenas curar a loucura que é normal dentro, tão dentro, que há tanto, por isso, pra se dizer... Desenfreada corrida que nem chega anoitecer o coração dispara e começa, tudo de novo, não tão novo. O velho de hoje, as notícias repetidas, o pão e o café, na mesma esquina, de sempre. Eis que nesta mesma surrupia o vento este teu desejo, tão seu, vem em lágrimas. Chuva fina teima e distrai a força que era tempestade. O frio, o sol, tudo junto e ao mesmo tempo. O tempo, teu desejo que retorna, aquece o solo, pisado, tão pisado sem nem ao mesmo saber por que pisa. Por um instante. Outra esquina, o corpo ereto, a cabeça altiva, os braços despencam. Cansaço. Descansa ali no banco da praça. Já respira agora, sem aparelhos. Já aspira novos anseios. Eu me permito hoje, amanhã e depois sentar no banco da praça, olhar as nuvens do céu, melancolicamente, só ontem. Repisar o solo, novos ventos, que venha logo a tempestade. E o sol surrupia alegria tão dentro, do teu desejo, na esquina, tudo junto ao mesmo tempo. Coração dispara. E começa. Chuça fina aquece o solo, repisado. Desenfreada corrida, nem chega anoitecer, braços despencam, corpo ereto e a cabeça altiva. Descansa. No banco da praça, na outra esquina. Eu me permito, de novo, tudo de novo.

22 de mai. de 2009

Porvir

Tem tanto mundo num só coração
Meus olhos fazem as cenas
De um grande espetáculo
Que está por vir, que está por vir
Porvir

Tem tanta desordem pelo corpo
Meu sentidos fazem a confusão
De uma grande revolução
Que está por vir, que está por vir
Porvir


Tem tantos sonhos dentro do ventre
Meu pés fazem o caminho
De uma grande mudança
Que está por vir, que está por vir
Porvir

Tem tanto silêncio na cabeça
Minhas mãos e braços dão o sinal
Do amor, só do amor que é preciso
Para vir.

12 de mai. de 2009

Para: Ana
De: Do amigo Zé Beto



menina que se lança...
que se lança...
mesmo porque não há como reter a força que não se sabe de onde vem
e espalha ao vento palavras de ordem, poesias em desordem
embaladas nas forças do bem
porque disparadas de um coração que ama
menina que está tão perto e tão longe
e tão dentro
porque os encontros na vida são assim
encontros de alma,
já que os corpos apenas nos carregam
com todas as incertezas, com todas as certezas,
com toda a força
da menina que lança... que se lança...






bom dia
zb

2 de mai. de 2009


Para além do precipício


Como um suicídio
Ali na frente, o precipício
Sorriso estampado na cara
Frio na barriga, as borboletas que voam
Tal e qual dos apaixonados
E ali o precipício
A espera do suicídio
Mãos, braços abertos
Suspiro profundo engole ventania
Vontade de gritar
E ali o precipício
A espera do suicídio
Olhos brilham para ocaso
Sol aquece o corpo vivo
Cheio de vida, desejos avistam horizonte
Um passo a frente
E ali o precipício
A espera do suicídio
Imagem reflete água límpida
Papel em branco, pessoa água turva
E a vontade súbita
Arde fogo sem cessar
E ali o precipício
A espera do suicídio
Não há dúvidas
Que de lá apenas o mistério
A quem vai, precipita, suicida
O que já morreu.

25 de abr. de 2009


Nos passos de Alice


Aqui pensando

Na vida de Alice

Fora e dentro do espelho

Me pareço

Apreço

Hoje tão sem apreço

Nem sei porque

Se é tanta luz

Que me leva

Até lá

Depois

Dos passos de Alice

18 de abr. de 2009

FRAGMENTOS DE CHICO

Não se afobe não
Que nada é pra já
O amor pode esperar em silêncio....

Poemas Mentiras
(.........................)

Amores serão sempre
Amáveis
Futuros amantes....

Se amarão sem saber
Um amor que um dia deixei pra você....

10 de abr. de 2009


LADO A LADO
por Luis Fernando Veríssimo



Encosto ou não encosto? Só o joelho. O que pode acontecer? Ela dizer “Mr. Lula, please!” Aí eu recolho o joelho, peço desculpas, “aimsórri, aimsórri” e pronto. Se eu soubesse falar inglês, explicaria. Sabe o que é, Elizabeth? Eu estava aqui pensando: quando é que, lá em Pernambuco, eu ia imaginar que um dia estaria sentado ao lado da rainha da Inglaterra? Não sei quem é que me botou aqui para tirar esta fotografia dos G-20. Não acho que tenha sido um pedido seu, “Quero o bonitinho de barba à minha esquerda”. Claro que não. Mas o fato é que estou aqui e o Barack está aí atrás em algum lugar, de pé e se perguntando o que eu tenho que ele não tem. O Sarkozy não deve nem estar aparecendo. Ficou atrás da Merkel e não vai sair na foto. E eu aqui ao seu lado, na primeira fila. Isto significa muito, viu Elizabeth?

Lá na minha terra vai ter gente se mordendo de raiva. Onde já se viu, aquele retirante nordestino que nem fala direito sentado à esquerda da Rainha da Inglaterra? Quando eu me elegi muita gente ficou horrorizada: como é que vai ser quando ele, um torneiro mecânico, tiver que nos representar num jantar oferecido, por exemplo, pela coroa inglesa? Vai ser servido na cozinha, para não dar vexame na escolha dos talheres. E aqui estou eu, sentado ao lado - com todo o respeito - da coroa inglesa em pessoa.

Se foi o protocolo que me botou aqui, ele acertou, viu Beth? Você, queira ou não, não é só a rainha dos ingleses, é, simbolicamente, a rainha de todos os loiros de olhos azuis do mundo, incluindo o Barack. De todos os bandidos que causaram esta crise e hoje nos infernizam a vida. E, de certo modo, eu sou o seu oposto. Sou uma espécie de rei republicano dos não loiros do mundo - ou pelo menos deve ter sido essa a ideia do protocolo aos nos botar lado a lado. Todos os outros chefes de estado desta fotografia seriam dispensáveis. A foto poderia ser só de nós dois e estariam todos representados.

E isto significa outra coisa também, viu, Beth? Eu não me contentei em ter nascido na miséria, no Nordeste, e quis mais. Não me contentei em ser um torneiro mecânico em São Paulo e quis mais. Não me contentei em ser um líder sindical e quis mais. Não me contentei em perder eleição atrás de eleição, insisti e acabei presidente.

Agora estou aqui, lado a lado com a Rainha da Inglaterra, num dos pontos mais altos da minha carreira, e também quero mais. Por isso, minha perna se moveu e meu joelho encostou no seu. De certa forma, o movimento da minha perna foi o passo final da caminhada que começou em Pernambuco, tantos anos atrás. Já que, ao contrário de você, Beth, não posso ficar no poder para sempre.
Canção do Dia de Sempre


Tão bom viver dia a dia…
A vida assim, jamais cansa…
Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu…
E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência… esperança…
E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.
Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.
Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!
E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas…


Mário Quintana

Data e Dedicatória

Teus poemas, não os dates nunca... Um poema
Não pertence ao Tempo... Em seu país estranho,
Se existe hora, é sempre a hora estrema
Quando o anjo Azrael nos estende ao sedento
Lábio o cálice inextinguível...
Um poema é de sempre, Poeta:
O que tu fazes hoje é o mesmo poema
Que fizeste em menino,
É o mesmo que,
Depois que tu te fores,
Alguém lerá baixinho e comovidamente,
A vivê-lo de novo...
A esse alguém,
Que talvez ainda nem tenha nascido,
Dedica, pois, os teus poemas.
Não os dates, porém:
As almas não entendem disso...



Mário Quintana

30 de mar. de 2009






Simples







Quero você se gostares da simplicidade
Posso lhe oferecer meus sorrisos, risadinhas e gargalhadas
Sempre que ouvir uma piada sua
Mesmo que ela seja sem graça
Mas repito, quero que se interesse por mim
Se a favor da simplicidade for
Não sou destas que lhe contará as centenas de leituras que fiz
Ou as loucuras que cometi
Nem tampouco te farei impressionado
Com histórias da vida
Mas eu serei terna ao lhe dar as mãos
Beijarei você com o meu e o seu desejo




Com você vou adormecer plena de amor
Mas não me esforçarei
Para ser tua musa
Nem mulher que te deslumbra
Apenas serei alma transparente,
Ficarei, voltarei a olhar da sua janela
Mas só enquanto me quiser
Simples, assim

29 de mar. de 2009

Distantes, porém íntimos.
"Da distância, o mais íntimo
Da intimidade, o que lhe é mais distante
Minutos antes almas cruzadas
Sol nasce, dia começa
Não há mais nada que os faça ter sentido
São desconhecidos
Almas se desfazem
Minutos depois"

22 de mar. de 2009

Reeditando o passado.




Deu saudade das poesias que fiz lá atrás... Cá estão, algumas das preferidas:

Prima Vera


...quando eu precisar...volto pra cá mas agora... é primavera em meu coração.
Não posso ficarPreciso voar..."Inverno pro cês porque eu encontrei a Prima Vera!



Quem é ela?

Lembranças da infância eu escuto
Todos os seus nomes, jeitos, sons e silêncios
Cheiro pai, cheiro pai
Morena de angola
Sandra Rosa Madalena
Ichiúca

Não, não
você não vai entender
Só nós.
Duas meninas – eu e ela
Uma delas minha irmã.

Olhos de jabuticaba, sorriso de mulher
Gargalhada de menina
Cabelo de índia, pele branca feito neve
Coração de mãe.

Passos certeiros, dança com alegria
Chora os guardados da vida
Levanta e sempre sacode a poeira
Ela é guerreira.

É a minha menininha que me ama
Eu a amo também
Minha irmã, companheira de vida
Tão longe tão perto.

Andressa, escuta aí
A nossa infância. Tá ouvindo?
Bicicleta, pular corda, esconde esconde, brincar de bicho,
de cabana, de bonecas, de rolimã, de teatro, de roda e

de amigas.

Pra sempre no coração.
Te amo, irmã.



Pra quando o inverno chegar...

Agora é hora
Vamo s'imbora
Outono chega
Pra fazer e desfazer
o que tá feito
e desfeito

Vamos s'imbora
Outono chega
pra morrer
e renascer
o que fui
no que sou

Agora é hora.







Deixe-me ir

Antes que a magia se acabe
Ilusão você se torne
Prefiro partir
Pra te reencontrar

Tem data marcada
Como uma promessa
O destino se cumprirá

Na música, na alegria, no sol, no mar,
nas estrelas, no luar e
nas cirandas
Eu e você

Assim será.




Lista das coisas que preciso fazer:

Me embalar na rede a tarde inteira.Olhar a lua todas as noites durante a semana.Pisar descalço na grama logo que amanheço.Esquentar a alma no calor do sol.Abraçar demorado quem estiver ao meu lado.Respirar profundo pra sentir o meu/teu coração. Adormecer e sonhar que assim seja: me embalar na rede a tarde inteira.olhar a lua todas as noites durante a semana.Pisar descalço na grama logo que amanheço.Esquentar a alma no calor do sol.Abraçar demorado quem estiver ao meu lado.Respirar profundo pra sentir o meu/teu coração. Adormecer e sonhar ...




Aqui dentro.


Caminhos desavisados atropelam o meu caminho
Já incerto em passos certeiros do passado
Sonhado.

Ruínas avisadas rasgam o meu coração
Tão cansado em batidas sonhadas no passado
Acabado

Certezas espiadas caminham o meu caminho
Inseguro e firme nos pés que vem do passado
Acalentado.




ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA


Eu declaro.
De hoje em diante
Não haverá mais culpa
Não haverá mais perfeição
Não haverá mais regras do “bem viver”
Nem explicações sobre as minhas regras.


Está declarado, então
A abolição de tudo que aprisiona, julga, sufoca, maltrata....
De tudo o que não flui, que nada contra a maré
Da minha alma...


Finda a escravatura.
Daquilo que guardei sem saber por que
Ao me desfazer descobri o que me impedia
De voar.




Essa tal liberdade




Hoje ela veio
Logo que acordei
A sensação de estar possuída
Por esta tão enlouquecida senhora



Essa tal liberdade
Ela já vinha me avisando
Que chegaria
Só quando eu estivesse preparada


Essa tal liberdade
“Confia e me usufrua”
Ela me disse.
E lá vou eu viver corajosamente esta aventura



Essa tal liberdade
Vem pra quem sabe
Que em lugar algum vamos chegar
Apenas sejamos...



...essa tal liberdade
Todos os dias da nossa vida
Andando e desamarrando
Pra ser ela, só ela



Essa tal liberdade.




Enquanto isso, vá morrendo...


Assim meio assim...Nó na garganta logo ao amanhecer, o aperto no peito e o sorriso da conveniência no rosto. A noite, o alívio do choro sentido. Outro dia começa e tudo de novo. A moça triste já não sabe o que foi feito dela. Olha para dentro e só o que encontra são seus fantasmas. Pra fora, tanta gente tão perdida, apressada, atônita e sem respostas. Vai esperar ...quem sabe o casulo se abre e ela entende um dia que tudo foi feito assim, meio assim pra ela descobrir que a vida é assim....morrer e nascer a todo momento... Mais forte e os olhos brilhando bem forte de novo. Sorriso franco e aberto. Um dia esse dia, moça triste, de novo chegará....Enquanto isso, vá morrendo pra nascer de novo.


POR TODA UMA VIDA...

Eu vi nos olhos deles
A espera
A resignação
E a consciência

Que não há nada mais para se perder
Que a vida se finda a cada final do dia

A alegria de estar junto
Reviver
Os anos
Bem vividos

Em silêncio, cruzam os olhares
Na velhice e no amor que os une

Já pedi, já rezei, já implorei
A todos
Os santos
Que eles possam ficar

Para ainda embalar os meus sonhos
Eternamente em minha vida

Por que
É deles
A minha
história vivida

E o meu maior sofrer é não saber
Escrever o ponto final de todas as nossas histórias


autoria:anacarolinacaldas
Dedicada para as duas pessoas que eu mais amo nesse mundo...

15 de mar. de 2009




Eu decidi
Não será fácil
Driblar a ansiedade
Principalmente essa mania de andar rápido
Tenho que lembrar que é
Devagar que se anda
Dar passo a passo
O importante é o movimento
Para se chegar lá
E é lá que eu quero ir.
Não quero mais ficar aqui.
Por enquanto vou ficando...
Com os olhos, coração e mente
Lá.
Aguardo os próximos dias
Pois eu sei
Milagres pequenos, bem pequenos
Irão acontecer.
Vão me dizer
Pra que lado
Devo ir
Pra chegar
Lá.

11 de fev. de 2009

Mistério da Vida


A morte é o grande mistério da vida
Não há explicação.
Só o mistério.
Para os que ficam.

Porém, a morte ensina
Nos dá lições
Reinicia a nossa vida
Com outro olhar

Ao amigo que se foi
Desejo que ouça sempre
O eco das nossas risadas
Além das trocas de amor incondicionais

O caminho continua
Nós aqui e você por aí
Um dia, tenho certeza
Desvendaremos o mistério

A morte deixa saudade e tristeza
A vida que vivemos
Seja como for
Te colocará sempre entre nós

O mistério da vida
É saber da morte tirar boas lições
Rever os laços de afeto
Amá-los sempre como se não houvesse amanhã


Dedico ao meu querido Breno

9 de fev. de 2009


Meu amigo Breno, pra sempre no meu coração

Hoje quando recebi a notícia da “sua partida” me doeu tanto em pensar que eu podia ter me esforçado mais. Mais pra gente se encontrar, pra gente não ter se afastado. Afinal, sempre soube
do carinho que você sempre teve por mim. E eu, tanto por vc. Hoje fui pra lá, há dez anos atrás e me lembrei de vc...

Vc era meu anjinho protetor, que me cuidava com teu olhar sempre vigilante na minha vida. Teu sorriso aberto, cheio de vida que nossos dias de convivência se tornavam os melhores! Meua amigo sincero, intenso, coerente, honesto, vibrante. Meu amigo brincalhão. Meu amigo tão querido, sempre...Se um dia alguém quiser compreender o que é amigo. É você, Breno.



Me perdoa pela ausência. Mas eu sei que vc sabia o quanto eu sentia tua falta. Você me falou nas últimas vezes pela internet que sabia da nossa amizade, apesar da ausência. Sabe...aquelas conversas foram tão importantes pra mim. Afinal, fazia tempo que a gente não conversava. Em poucos minutos você me deu conselhos, torceu por mim e me contou das tuas vontades para o futuro. Fiquei sabendo que elas tinham começado a acontecer. Que bom...teus momentos foram felizes antes da sua partida....

Mas agora, quero apenas deixar aqui registrado que apesar do dia ter sido difícil, pensei muito em você, com ternura. Lembrei de tudo novamente. E dei alguns sorrisos, pois a gente se divertia muito. Meu querido, quanta falta você vai fazer. Porém, tua missão se findou e ela foi linda. Você é um ser dos mais iluminados que já conheci.


Por fim, tua despedida mexeu com a vida por aqui. E eu sei o quanto você valorizava a amizade, os amigos. Por isso, refleti nesse silêncio aqui dentro depois dessa notícia. Refleti que tem tantas coisas que nos parecem de primeira ordem, sempre mais importantes. Mas, daqui pra frente quero seguir tua lição de vida. Os amigos, a família, os afetos em primeiro lugar. Me perdoa mais uma vez pela ausência. E fica sempre no meu coração, viu!?

Vou sempre, por toda minha vida me lembrar do eco das nossas risadas, das tuas brincadeiras comigo e principalmente do tanto de carinho que tínhamos um pelo outro.

Com amor, sua amiga

Ana

28 de jan. de 2009


Chuvas



Há lugares onde chove muito. Dias e dias de chuva intensa ou, simplesmente, trombas d’água nos finais de tarde. Em outros, onde também chove muito, a chuva é diferente: mais suave. Ali habituamo-nos ao tilintar da água batendo na janela na escuridão da noite, como um inseto distante, insistente e tranqüilizador.Levantamo-nos no meio da noite, abrimos um pouco a cortina e ficamos espiando a lavagem dos pecados do mundo com uma xícara de chocolate quente nas mãos. Chuva com garganta quente e nenhuma ousadia nova, apenas o conforto da vida acomodada e as vontades rodeadas de um sono aposentado.



seção 100 palavras do www.glauperpiva.blogspot.com

27 de jan. de 2009

Obama, por José Saramago

A Martin Luther King mataram-no. Quarenta mil polícias velam em Washington para que hoje não suceda o mesmo a Barack Obama. Não sucederá, digo, como se na minha mão estivesse o poder de esconjurar as piores desgraças. Seria como matar duas vezes o mesmo sonho. Talvez todos sejamos crentes desta nova fé política que irrompeu em Estados Unidos como um tsunami benévolo que tudo vai levar adiante separando o trigo do joio e a palha do grão, talvez afinal continuemos a acreditar em milagres, em algo que venha de fora para salvar-nos no último instante, entre outras coisas, desse outro tsunami que está arrasando o mundo. Camus dizia que se alguém quisesse ser reconhecido bastar-lhe-ia dizer quem é. Não sou tão optimista, pois, em minha opinião, a maior dificuldade está precisamente na indagação de quem somos, nos modos e nos meios para o alcançar. Porém, fosse por simples casualidade, fosse de caso pensado, Obama, nos seus múltiplos discursos e entrevistas, disse tanto de si mesmo, com tanta convicção e aparente sinceridade, que a todos já nos parece conhecê-lo intimamente e desde sempre. O presidente dos Estados Unidos que hoje toma posse resolverá ou intentará resolver os tremendos problemas que o estão esperando, talvez acerte, talvez não, e algo nas suas insuficiências, que certamente terá, vamos ter de lhe perdoar, porque errar é próprio do homem como por experiência tivemos de aprender à nossa custa. O que não lhe perdoaríamos jamais é que viesse a negar, deturpar ou falsear uma só das palavras que tenha pronunciado ou escrito. Poderá não conseguir levar a paz ao Médio Oriente, por exemplo, mas não lhe permitiremos que cubra o fracasso, se tal se der, com um discurso enganoso. Sabemos tudo de discursos enganosos, senhor presidente, veja lá no que se mete.


Donde? por José Saramago

Donde saiu este homem? Não peço que me digam onde nasceu, quem foram os seus pais, que estudos fez, que projecto de vida desenhou para si e para a sua família. Tudo isso mais ou menos o sabemos, tenho aí a sua autobiografia, livro sério e sincero, além de inteligentemente escrito. Quando pergunto donde saiu Barack Obama estou a manifestar a minha perplexidade por este tempo que vivemos, cínico, desesperançado, sombrio, terrível em mil dos seus aspectos, ter gerado uma pessoa (é um homem, podia ser uma mulher) que levanta a voz para falar de valores, de responsabilidade pessoal e colectiva, de respeito pelo trabalho, também pela memória daqueles que nos antecederam na vida. Estes conceitos que alguma vez foram o cimento da melhor convivência humana sofreram por muito tempo o desprezo dos poderosos, esses mesmos que, a partir de hoje (tenham-no por certo), vão vestir à pressa o novo figurino e clamar em todos os tons: “Eu também, eu também.” Barack Obama, no seu discurso, deu-nos razões (as razões) para que não nos deixemos enganar. O mundo pode ser melhor do que isto a que parecemos ter sido condenados. No fundo, o que Obama nos veio dizer é que outro mundo é possível. Muitos de nós já o vinhamos dizendo há muito. Talvez a ocasião seja boa para que tentemos pôr-nos de acordo sobre o modo e a maneira. Para começar.





do blog http://caderno.josesaramago.org/

19 de jan. de 2009

Desenredo


Por toda terra que passo
Me espanta tudo o que vejo
A morte tece seu fio
De vida feita ao avesso
O olhar que prende anda solto
O olhar que solta anda preso
Mas quando eu chego
Eu me enredo
Nas tranças do teu desejo
O mundo todo marcado
A ferro, fogo e desprezo
A vida é o fio do tempo
A morte é o fim do novelo
O olhar que assusta
Anda morto
O olhar que avisa
Anda aceso
Mas quando eu chego
Eu me perco
Nas tramas do teu segredo
Ê, Minas
Ê, Minas
É hora de partir
Eu vou
Vou-me embora pra bem longe
A cera da vela queimando
O homem fazendo o seu preço
A morte que a vida anda armando
A vida que a morte anda tendo
O olhar mais fraco anda afoito
O olhar mais forte, indefeso
Mas quando eu chego
Eu me enrosco
Nas cordas do teu cabelo


Letra: Renato Braz
Composição: Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro

10 de jan. de 2009

Caminho

Quem é que disse que é desse jeito que se caminha?
A religião. A moral. O capital. O cordão umbilical.
Ninguém tem nada a ver com isso
Vá viver, então!
Quem é que disse que é desse jeito que se caminha?
O amor. A solidariedade. A missão. A loucura reinventada.
A paixão. A saúde. A alegria. A respiração. A alma.
Você tem tudo a ver com isso.
Fresta


Cruzou a fresta do tempo sem luvas nas mãos. Tateou pregos, gelatinas e borrachas. Evaporou-se em idéias de algodão. Ajoelhou-se e pôs-se a pensar nas cores da noite, nos cheiros do dia, nas dores do entardecer.Percebeu que os hematomas não são filhos das pancadas. São paridos por teimosia. Em cada roxo na alma, dezenas de arestas foram polidas com a língua. Milhares de esquinas foram deixadas à míngua. Pacotes de limas foram chupadas com sal.Com amargo na boca, derrubou seus medos nos pedregulhos da rua. Medo de não conseguir ser e medo de, sendo, esquecer-se do que foi.


Glauber Piva www.glauberpiva.blogspot.com