16 de abr. de 2008

Um assalto na Rua Rockfeller : entre a frieza e um pai iluminado


Hoje pela manhã, eu tinha acabado de sair do ônibus pensando no dinheiro que tenho que ganhar e nas dívidas para pagar. Fui andando em direção ao meu trabalho pela Rua Rockfeller, quando avistei na mesma calçada que eu andava algo que parecia um começo de briga. Com medo, resolvi parar. Um rapaz com uma mala na mão tinha acabado de sair do carro. Uma moto estaciona ao lado e o homem que estava na garupa, de capacete, aborda o rapaz. Com a maior calma do mundo – inclusive foi o que mais me assustou – o homem da moto puxou a mala, de dentro dela pegou um envelope branco, olhou dentro e voltou para a moto. Andando ainda devagar pela rua, me viram e chegaram bem perto da calçada. O que estava atrás, abaixou o visor do capacete, mirou a arma pra mim e disse: “Corra, se não morre.”

Não sei se foi ter visto a arma na minha frente ou foi a calma e frieza dos assaltantes, que me assustou mais. Só mais tarde é que fui me dar conta que sim, podia ter levado um tiro e perdido a vida. Assim como o rapaz, o Lúcio, que ali na minha frente tinha acabado de perder os 19 mil reais que havia sacado na Agência HSBC, do Cristo Rei. Eu era a única pessoa ali como testemunha e o ajudei na descrição para a polícia. Os assaltantes o seguiram da agência bancária até o local em que estacionou o carro. Foi a nossa conclusão.

Enquanto esperávamos a polícia, que chegou uns 20 minutos depois (tempo suficiente para os assaltantes sumirem do mapa), os pais do rapaz chegaram. O rapaz assaltado abraçou o pai e disse “Desculpa pai, era o teu dinheiro. Tudo o que você tinha.”

O pai, também com a maior calma do mundo, mas esta cheia de ternura e não da frieza que havíamos presenciado, apenas falou: “Tudo o que eu tenho está aqui bem na minha frente, meu filho. O dinheiro nós vamos conseguir tudo de novo.” Depois, "o que eu ia fazer com 19 mil se se você não estivesse vivo?". Ainda falou que o melhor era esquecer a polícia que demorava para chegar e me convidou para tomar um café junto com eles, pois afinal “tudo na vida serve como aprendizado e vocês estão vivos,”disse.
Nessa hora eu já tinha esquecido minha revolta pela demora da polícia e me acabei de chorar. Lúcio também chorava no ombro do pai. Emocionada, pensei que estava viva para ir atrás do meu sustento. Graças a Deus.

As viaturas da Polícia militar chegaram, nos ouviram, e foram tentar recuperar o dinheiro perdido. Não sei se vão conseguir. Só sei que o pai do Lúcio é um iluminado e mesmo acreditando que podemos mudar algo nesse mundo para acabar com a violência e a criminalidade, fico com as palavras que ele me disse quando se despediu de mim: “Se o nosso Senhor quiser, o dinheiro vai aparecer. Deus apenas quis vocês vivos. Isso já basta.”

Começo a acreditar que estamos assim, apenas salvos, por milagres como este.
Ana Carolina Caldas, viva Graças a Deus