16 de ago. de 2009

O ENCONTRO DAS MINHAS TIAS

Hoje minha madrinha foi continuar a vida, em paz, junto com os anjos. Nestas horas, vai passando um filminho e lembrei das mãos de “fada madrinha” da Tia Wilma. Ela fazia bonecas lindas de porcelana. Sempre foi linda, assim como as suas bonecas. No Natal, eu, minhas irmãs e primas sempre esperávamos para ver que surpresa de boneca ganharíamos. E eu, então? Afilhada! E foi desta lembrança que hoje eu tive mais saudades. Dos natais “enfeitados” pelas minhas tias. E lá estavam elas: Tia Lourdes e a Tia Antoninha, e espiando lá do céu, a Tia Neusa. Esse quarteto resume o que para mim, sempre foi o mais divertido, e também mais encantador nestes natais. Todo ano, o mesmo ritual da espera das irmãs chegarem uma a uma. E era inevitável que cada uma que chegasse tivesse uma piada pronta para outra. Lembrei da risada e voz rouca da Tia Wilma....Dos vestidos em tom rosa que ela sempre usava, dos pratos enfeitados, do jeito de andar dela - parecia que andava nas pontas dos pés. Lembrei das risadas e ironias entre elas. Mas também das lágrimas partilhadas, das preocupações e do carinho. No final da festa, elas brincavam e dançavam, e riam, choravam, brigavam e no final o que sobrava, para mim, eram as histórias contadas naquele natal .. Depois vinha outro, novas histórias. Voltei no tempo e me vi criança, olhando para aquela bagunça toda. A imagem que me vem é desse bom humor, apesar de tudo. A vida não foi fácil para nenhuma delas, assim como é a vida.... Às vezes, alguém com mais problemas, outros menos.... Porém, nada que um domingo com a mesa de café posta em uma das casas das tias não as fizesse passar o tempo, esquecer dos problemas ou mesmo colocá-los para fora. Mas a impressão que tenho é que elas vieram para essa vida com este objetivo: ter esse encontro, entre elas. Por isso, o ritual do café, dos natais, aniversários sempre foi tão especial....

Cada uma do seu jeito eu tenho aqui sempre comigo também como referência de mulheres, do feminino, da vida! A Tia Antoninha – a mais elegante, charmosa e a vida toda, nós – miniaturas de mulheres – tivemos dela o olhar atento, que era nada mais nada menos do que carinho pelas mulheres da família caldas. O olhar para como nossa alma se apresentava externamente para o mundo. Ela sim, impecável sempre. Vaidosa, cuidadosa e linda! Nunca me esqueço das unhas sempre vermelhas, o cabelo escovado e a roupa “ultima moda”. A Tia Antoninha, para mim, ali pequeninha olhando pra ela – sempre foi a tia que exalava perfume, lembrava jardim – mas também num relance a gente se deparava com os seus olhos redondos olhando pra gente, cuidando da nossa beleza e demonstrar assim o seu carinho por nós.

A Tia Neusa, a mais perspicaz, inteligente e que sempre teve as melhores tiradas, as ironias estaladas no silêncio da última conversa. Lembro da tia dançando Chico Buarque no meio da sala. Lá vai ela, de um lado pra cá, cigarrinho na mão, cantando “Vai Paaaasaaar”.... A Tia não deixava barato para nenhuma das irmãs. Às vezes ela sumia, dava uma descansadinha, despertava e se colocava a par das conversas ao redor da mesa, depois lá vinha com uma boa tiração de sarro apontada para uma delas. Todo Natal ela me desejava: um namorado bem bonitão e rico! Mas a parte mais engraçada era a dupla que ela fazia com a Tia Lourdes, dupla inseparável...

A Tia Lourdes, a caçula. A Tia eu sempre a tive na infância um pouco como mãe, por causa da convivência com a Cris, minha prima. Entre elas, sem dúvida a tia foi sempre a mais festeira – das cervejinhas, dos cafés na casa dela, da comilança e muita gente reunida. Nas brincadeiras das irmãs, a tia era sempre passada para trás... O pai a chama de faísca atrasada. Fica lá só “meditando” sobre a última piada feita a seu respeito. Por que, cá pra mim, a tia sabia deste segredo – que elas vieram para cá por causa deste encontro marcado.... Então, resolvia reuni-las para sempre prolongar este encontro.


Por viver no Rio Grande do Sul, pouco convivi com a Tia Antila, que também faz parte desta grande família. Dela tenho as lembranças das conversas com a família até altas horas da madrugada, da elegância da tia e do seu sorriso: Aberto e amoroso.


Com estas tias, aprendi adorar uma boa mesa de café e bater papo, desabafar e dar boas gargalhadas. Aprendi também amar mais minhas irmãs e, sobretudo, conservar o bom humor pra enfrentar essa vida!

Beijos nas tias todas
Tia Wilma, que os anjos a recebam