19 de abr. de 2007

Diário da Felicidade

Coisinhas simples e coisinhas complicadas fazem de toda gente um pouco mais gente feliz. Assim como cantou Vinicius... "A felicidade é uma coisa boa e tão delicada também tem flores e amores de todas as cores tem ninhos de passarinhos tudo de bom ela tem e é por ela ser assim tão delicada que eu trato dela sempre muito bem”...

Cada qual com a sua ela está onde a gente quer que ela esteja: na gargalhada bem dada, no abraço apertado, no choro bem chorado até cansar, no sol e na chuva bem forte, nas conversas intermináveis com ou sem sentido, a companhia dos amigos sejam eles os mais sérios, mais engraçados, mais responsáveis, mais largados – o que importa é que eles estejam ali aquecendo a tua felicidade...

Ela está então nas coisas complicadas...nos amores vividos, sofridos, esquecidos e renascidos, no fazer as pazes para dar a mão a quem lhe é tão querido, no sorriso conquistado e perseguido depois da mágoa superada, no alívio da liberdade de algo incompreendido e que talvez nunca será compreendido e na sensação de que tudo o que se podia fazer foi feito ...

E quem nunca a encontrou nas coisas mais simples da vida...dormir muito depois de noites mal dormidas, abrir a janela pro vento bater no rosto, contemplar as estrelas, saborear a comida mais gostosa da nossa mãe, avó, tia, assistir o filme preferido, escutar mil vezes a mesma música também preferida, não fazer nada, não pensar em nada, acabar um livro bem gostoso de ler, achar dinheiro no bolso da calça, um chazinho quente nas noites frias, pés descalços na grama nos dias quentes, sorrir ao acordar porque mais um dia começou....

Mas eis que existem as coisas importantes que se misturam com o sentido muitas vezes indecifrável da felicidade: o pai, a mãe, os irmãos de alma e sangue, os novos amigos que aparecem em nosso caminho, os velhos que te espiam e protegem de longe e de perto, os amores bem resolvidos que viram doces e eternos amores, aprender novas coisas, o encontro com as tuas missões aqui na terra, o silêncio conquistado com a serenidade, o sorriso diário da certeza do caminho certo, fazer o bem sem olhar a quem, a crença sempre a crença em um mundo melhor, mais justo e solidário e a felicidade em acreditar nessa suposta ingenuidade que me faz perseguir o sonhoe que um dia todas as pessoas serão fraternas, bondosas e humanas de fato...Isso me faz feliz!

Autoria:anacarolinacaldas

15 de abr. de 2007

E ela se inventou...


Mais uma tentativa
Mas dessa vez foi diferente
Me portei no meu pedestal
Como o ser mais digno

Dentro de mim, da minha alma
Da essência verdadeira que me explica
Me portei no meu pedestal
Como o ser... mais risível

Não quis ter raiva, só amor incondicional
Não quis fazer tudo errado, fiz tudo certinho
Não quis não gostar de mim, e tive orgulho do que fiz
Não quis dar o braço a torcer, fui até o fim...

Mas eis que chega a Noite.
Perversa escureceu o que era a minha fantasia
Eu me portei no meu pedestal
Como o ser mais inventado ...

O amor incondicional se transformou em raiva
O certo foi todo errado
Meu orgulho me fez não gostar de mim
E o fim porque eu não dei o braço a torcer, já chegou

Faz tempo.

E perdida nas fantasias do meu dia
Eu nem percebi.


Autoria: anacarolinacaldas

5 de abr. de 2007


Todo sábado tinha Chico lá em casa!


Fui com meus pais no show do Chico, nesta quarta feira, no Teatro Guaira. Essa foi a combinação perfeita. Meus pais e o Chico. Primeiro os meus pais - são as pessoas mais iluminadas e intensas que eu conheço. Os dois tem os olhos sempre brilhando cheios de amor e compaixão. Os dois andam juntos ainda se aventurando, aprendendo e amando a vida. E o Chico? Foi com eles que aprendi a me encantar com o Chico Buarque.

Foi inevitável a choradeira. Passou um filme todinho da minha infância. Eu lembrei dos sábados na minha casa. Janelas abertas, cheirinho de café na cozinha e lá na sala bem alto eles já tinham colocado o Chico pra tocar. Sim, era desse jeito que a gente começava o sábado. Eu, minhas duas irmãs e meu irmão.

Lembrei também de um dia frio e minha mãe, creio desesperada com tanta criança em casa. Mas ela, nossa professora, sempre dava um jeito de inventar alguma brincadeira. E naquele dia colocou o disco Saltimbancos pra tocar e depois propôs: ”Vamos brincar de teatro!? Vamos fazer Saltimbancos?”. Ensaiamos, decoramos e depois noite adentro repetimos não sei quantas vezes a peça.

Depois da  infância nós começamos a entender algumas conversas dos meus pais e também entendemos alguns significados das músicas do Chico. Ditadura, exílio, entre outros. Participei do Movimento Estudantil e as músicas da infância estavam ali me fazendo entrar no encantamento do sonho revolucionário de mudar o mundo. Ah.. como cantei o "Apesar de Você" quando estava “contra atacando” os inimigos da democracia, do socialismo...Diga-se de passagem, minha música preferida.

Quantas vezes nossa mãe nos viu – nós meninas de casa – românticas assumidas, chorando pelos amores perdidos ou pelos amores vividos embaladas pela “Todo sentimento” ou “Futuros Amantes”. E como é sempre muito engraçado ouvir o meu pai dizer “Sou o cara mais corno manso que existe”, quando a minha mãe suspira ao ver o Chico...

Ah! Como foi bonito no show, eu de vez em quando de rabo de olho, espiar a minha história ao lado sentada comigo e ali na frente... no palco. Eu chorei tanto porque tudo aquilo tem o cheiro da minha casa, da gente toda reunida, do barulho dos meus irmãos, das músicas, do meu pai sentadinho na frente da vitrola (isso mesmo: vitrola!) escutando e cantando, da minha mãe de um lado pro outro arrumando a casa e cuidando de todo mundo. Enquanto o Chico andava por lá embalando os nossos sábados, os nossos laços, a nossa vida...

Exagero? Não... não é não. Só saudades.



autoria: anacarolinacaldas

3 de abr. de 2007

POR TODA UMA VIDA...

Eu vi nos olhos deles
A espera
A resignação
E a consciência

Que não há nada mais para se perder
Que a vida se finda a cada final do dia

A alegria de estar junto
Reviver
Os anos
Bem vividos

Em silêncio, cruzam os olhares
Na velhice e no amor que os une

Já pedi, já rezei, já implorei
A todos
Os santos
Que eles possam ficar

Para ainda embalar os meus sonhos
Eternamente em minha vida

Por que
É deles
A minha
história vivida

E o meu maior sofrer é não saber
Escrever o ponto final de todas as nossas histórias


autoria:anacarolinacaldas
Dedicada para as duas pessoas que eu mais amo nesse mundo...

“De primeiro, eu fazia e mexia, e pensar não pensava. Não possuía os prazos. Vivi puxando difícil de difícel, peixe vivo no moquém: quem mói no asp’ro, não fantasêia. Mas, agora, feita a folga que me vem, e sem pequenos dessossegos, estou de range rede. E me inventei deste gosto, de especular idéia. O diabo existe e não existe? Dou o dito. Abrenúncio. Essas melancolias. O senhor vê: existe cachoeira; e pois? Mas cachoeira é barranco de chão, e água se caindo por ele, retombando; o senhor consome essa água, ou desfaz o barranco, sobra cachoeira alguma? Viver é negócio muito perigoso...”

João Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas



Enviado por Glauber Piva ... que de vez em quando "especula" idéias comigo