22 de mai. de 2008

dissintonia....

Uma estrela sempre a te espiar.
Seguia à noite todos os teus passos
Ela se enfurecia quando a noite adormecia
Com o sol ela se apagava
E tua imagem desaparecia

Outra noite e mais uma vez lá estava ela
A te olhar fumando na janela
Mas pobre estrela. Não conquistou
Esse teu olhar, que olhava
Apaixonado para ela
Clara e serena, a lua
A boiar no céu

Nem sabia ele que aquela
Que parecia reinar
Era triste pelo amor desencontrado
Noite e dia em dissintonia
Ele, o sol resplandescente
Nem um pouco se importava
Com a dor que lhe causava


Lua, sol, estrela e você
Em descompasso
Amores divididos
Pelo céu e a terra
Luz e a escuridão
Olhos que não se vêem
Corações a espera
Do encontro
Que nunca há de chegar



autoria:anacarolinacaldas
Encontros e Desencontros



Cada encontro está carregado de perda.
Ou de perdas.
Às vezes duas pessoas que se amam (amigos, casados, solteiros, amantes, namorados) se encontram e são felizes.
Ao fim da felicidade, um deles chora. Ou fica triste. Ou baixa os olhos. Ou é invadido por uma inexplicável melancolia.
É a perda que está escondida no deslumbramento de cada encontro.
O encontro humano é tão raro que mesmo quando ocorre, vem carregado de todas as experiências de desencontros anteriores.
Quando você está perto de alguém e não consegue expressar tudo o que está claro e simples na sua cabeça, você está tendo um desencontro.
Aquela pessoa que lhe dá um extremo cansaço de explicar as coisas é alguém com quem você se desencontra.
Aquela a quem você admira tanto, que lhe impede de falar, também é um agente de desencontro, por mais encontros que você tenha com as causas da sua admiração por ele.
A pessoa que só pensa naquilo em que vai falar e não naquilo que você está dizendo para ela é alguém com quem você se desencontra.
Alguém que o ama ou o detesta, sem nunca ter sofrido a seu lado, é alguém desencontrado de você.
Cada desencontro é perda porque é a irrealização do que teria sido uma possibilidade de afeto.
É a experiência de desencontros que ensina o valor dos raros encontros que a vida permite.
A própria vida é uma espécie de ante-sala do grande encontro (com o todo? o nada?).
Por isso talvez ele nada mais seja do que uma provocação de desencontros preparatórios da penetração na essência DO SER.
Mas por isso ou por aquilo, cada encontro está carregado de perda.
E no ato de sentir-se feliz associa-se a idéia do passageiro que é tudo, do amanhã cheio de interrogações, da exceção que aquilo significa.
A partir daí, uma tristeza muito particular se instala.
A tristeza feliz.
Tristeza feliz é a que só surge depois dos encontros verdadeiros, tão raros.
Encontros verdadeiros são os que se realizam de ser para ser e não de inteligência para inteligência ou de interesse para interesse.
Os encontros verdadeiros prescindem de palavras, eles realizam em cada pessoa, a parte delas que se sublimou, ficou pura, melhor, louca, mas a parte que responde a carências e às certezas anteriores aos fatos.
É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando a alegria da felicidade vivida ou trocada.
Quem se alegra demais se distancia da felicidade.
Felicidade está mais próxima da paz que da alegria, do silêncio do que da festa.
Felicidade está perto da tristeza, porque a certeza da perda se instala a cada vez que estamos felizes.
É esta certeza - a da perda - que provoca aquela lágrima ou aquela angústia que se instala após os verdadeiros encontros.
Há sempre uma despedida em cada alegria.
Há sempre um "E depois?" após cada felicidade.
Há sempre uma saudade na hora de cada encontro.
Antecipada.
Disso só se salva quem se cura, ou seja, quem deixa de estar feliz para ser feliz, quem passa do estar para o ser.





Texto: Arthur da Távola

1 de mai. de 2008

BALANÇO


Não se incomode comigo não, amigo.
Ando quieta mas por dentro é um rebuliço só
Tantas vozes misturadas e mais a minha
Que anda me perguntando
Quais delas eu vou deixar
Em silêncio.


Quero a voz da serenidade e humildade
Do bom humor e a não vaidade
Do fazer mais e acontecer menos
Do andar devagar pra me apressar
Apenas pra você, amigo.


Silencio o que não me diz mais nada
As disputas, o poder, a confusão
A dissintonia.
Que me calam, me param
A alma, no lugar errado.


Aos poucos tudo se encaixa
Não volto atrás do que eu não fui
Pra frente, minha caminhada
é risonha, leve e sem mais
Nada a declarar


Eu não preciso dizer mais nada
Pra você e pra mais ninguém
Então venha, aproveita e caminha comigo
Eu prometo, a viagem
Será uma grande aventura.


Não importa...
As vozes serão nossa sombra
De mãos dadas nossa estrada
Vai fugir e encontrar o sol
Todos os dias
Da nossa vida.


Amo tudo que a vida
Me reserva.
Pra mim
e pra você.



autoria: anacarolinacaldas