3 de jun. de 2010


LABIRINTO

Seja mais leve. Foi um ultimato, um desejo profundo, um aviso. Ela, perdida em tantos pensamentos sentiu como se tivesse uma arma apontada. Como fazer isso? Ser mais leve? Se amá-lo vinha sendo um fardo, uma lição difícil, um labirinto. Isso! Um labirinto! Era assim que ela sentia o amor que percorria sozinha. Em cada esquina: um fantasma, uma nova história. Mais uma volta, tenta desistir mas nunca encontrou a saída. Um dia desses se fechou neste amor labirinto e chorou copiosamente. Imaginou tantos outros que lhe abrem as portas com facilidade, se imaginou nos braços deles... Teve saudades de um ou outro. Desejou todo aquele amor declarado, seguro e fluido que lhes ofereciam... Abriu a porta, e ele sozinho, absorto, quem sabe compartilhando de pensamentos parecidos. Quem sabe ele pensava em todas as outras. Como ser leve diante de um amor de mão única? Ela teve um súbito impulso de perguntar. Mas sabia: ele mesmo que implorou por mais leveza, tinha o cenho cerrado, a boca fechada, os braços cruzados quando a conversa tergiversava para o seu interior. Sorriso aberto, gargalhadas, champagne, muita música, tudo que é externo para ele, ficava mais belo, mais leve... enfim. Mas a dela, a sua guerra, era que a leveza fosse dentro, dentro deles. E como uma oração, olhando para ele, cochichou sozinha: “Que os nossos olhos se encontrem no meio da noite e falem tudo o que há para ser dito sem uma única palavra dita. Que ao menor sofrimento, venha mesmo no meio da multidão me socorrer, atender ao meu chamado, meu pedido de ajuda. No meio do labirinto me encontre. Apenas a mão estendida, o abraço apertado, me leve embora. Puxe as cobertas e me acalente com uma música linda de embalar os sonhos. Vou acordar leve e avistar estradas largas e abertas. Já saberei o caminho que me levará até você.”