19 de out. de 2007

Pra lá...


Tem dias que a gente se sente como quem partiu....
Eis que vem a roda viva e carrega o destino...




autoria:anacarolinacaldas e o chico

7 de out. de 2007


SUA VACA!

(E A IDENTIDADE CULTURAL DE CURITIBA)



Não sei qual é a opinião de vocês sobre a Cow Parade, que marcha ao redor do mundo em busca de atenção, reivindicando o direito inerente a toda vaca de , sei lá... ter tetas?


Mas, o fato é que, a breve e falida passagem da parada de vacas por Curitiba em outubro passado, foi em uma palavra singela apenas em Portugal, nada mais que a primeira sílaba do nome da nossa amada vila feliz.

Quem viu, concorda que foi um desastre em idéias e falta de humor na busca em expressar uma identidade cultural da cidade ou de seus habitantes, que fosse além do óbvio – é afinal de contas uma parada de vacas, oras.


Mas, talvez o mais engraçado era ver a reação das pessoas às vacas: ninguém sabia muito bem que fazer com elas ou na presença delas ou porque elas existiam. E as vacas viraram um elefante branco: “Não olhe agora, mas tem uma vaca sentada no aeroporto...”
E nessa vaca lia-se: Leite Quente.
E assim, ninguém viu as vacas, fingimos curitibanamente que elas nem estavam ali.

Boas idéias foram preteridas a outras de valor questionável.


A vaca do nosso amigo Marcucho, sentada com sua cara de paciência bovina a esperar ao lado de um telefone com uma plaquinha dizendo COW ME era a minha preferida entre todas as que não foram feitas. A vaca pintada de roxo que hoje reside no Museu do Olho é a que eu mais odeio. Tipo, hãh?

E o final triste dessas vacas Curitibanas é que, ao fim de sua apresentação esdrúxula sob olhares indiferentes da população, elas foram empurradas para longe e ficaram por meses encurraladas e ao relento em abandono no pátio do Moinho Rebouças da Fundação Cultural de Curitiba (a mesma que deixou o Cine Ritz e a Confeitaria das Famílias fechar) esperando para serem compradas em Leilão Beneficente: Salve uma vaca e uma criancinha ao mesmo tempo!
Bem, nenhuma delas, nem as vacas nem as criancinhas foram salvas, pois nenhum rei do gado cultural foi encontrado para fazer bater o martelo.

Mas as vacas são foda e seguindo sua natureza, elas não desistem! Engolem tudo!


Talvez seja por isso que a melhor tradução de “bitch” para o português seja mesmo “vaca”: porque as duas espécies vão longe até não dar mais.


Pois bem, as vacas em questão seguiram vacarosamente até o Rio de Janeiro e lá estão, em pastos mais fáceis, onde o sistema de pastejo cultural rotativo dá liberdade para que as mesmas passem seus dias ao sol, importunando o Drummond em seu banco, servindo de playground no calçadão de Copacabana para criancinhas curiosas, posando de biquíni e fazendo topless de tetas no posto 9 em Ipanema - direito conquistado anteriormente por outras vacas e ainda usado por muitas!

E essa aporrinhação toda que escrevi aqui meus amigos, é nada mais que a pergunta que não quer calar em mim, toda vez que algum outro evento cultural de peso acontece nessa cidade:
Afinal de contas, qual é a nossa identidade cultural?


E penso que enquanto não a acharmos, não vai adiantar sermos expostos a outros eventos culturais relevantes ou mesmo de vanguarda, TIM Festivals, Festivais de Teatro e outros Jum Nakaos que exponham no MON: porque ainda não vamos ter nos reconhecido o suficiente para pararmos de lançar nosso olhar de estrangeiros sob nós mesmos. E assim poder basear o nosso olhar em alguma outra coisa que a sensação de sempre estarmos abanando de longe em simpáticas boas vindas e aplausos rasgados a culturas que nos visitam em nossa própria casa, mas as quais não conseguimos conceber, elaborar internamente ou sequer nos divertir com elas.








AUTORIA:anacarolinacaldas/ do amigo Antonio Thieme

6 de out. de 2007

felicidade se acha em horinhas de descuido
joão guimarães rosa

5 de out. de 2007

Deus lhe pague - Chico Buarque

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer, e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague
Pelo prazer de chorar e pelo "estamos aí"
Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir
Um crime pra comentar e um samba pra distrair
Deus lhe pague
Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui
O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir
Pelo domingo que é lindo, novela, missa e gibi
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair
Deus lhe pague
Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir
Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir
E pelo grito demente que nos ajuda a fugir
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague

1 de out. de 2007

O Vagalume e a Rosa
“Lá no meio do jardim – a rosa sempre alegre com a chegada do seu mais fiel amigo: o vagalume. Todos os dias quando anoitecia, ela era a única que não se fechava porque os dois ficavam horas e horas conversando sob a sua luz, o perfume e a graça dela e mais a luz do luar. Ela ali plantada no mesmo lugar vivia a sua vida com as mesmas cores – as vezes mais fracas e outras mais fortes – do seu jardim. Dias de sol e tempestade, tinha histórias pra contar. Ele, voava de jardim em jardim. Tinham pouco tempo pra falar da vida. As vezes ele demorava dias pra chegar. Mas sempre chegava pra contar as novidades dos outros jardins. Tinha outras rosas. Mas aquela rosa era com quem podia até confessar:que as vezes não acreditava tanto em sua luz própria. Ela também, só com seu amigo vagalume mostrava o seu lado não tão belo como as pessoas podiam imaginar. O mais engraçado dessa história – lembra a rosa – é que ela demorou pra deixa-lo chegar ali perto pois tinha medo. Até que um dia a luz do vagalume trouxe um calor e a vontade de ficar perto. E assim ficaram sempre por perto, mesmo distantes.. Porém um dia ele não queria mais voar, ela não queria ficar mais plantada. Não se entendiam mais.Talvez estavam olhando tanto para si que esqueceram de olhar um ao outro, dar as mãos pra que o calor voltasse a fortalecer aquela linda e inusitada amizade. Ele voou e nunca mais voltou. Ela agora ao anoitecer se fecha, dorme sem a luz que os envolvia nas longas noites de conversa e calor. O cravo que ali do lado foi testemunha da história estava inconformado.Ouviu outros vagalumes contarem que ele achava que ela não o entendia nunca e seus espinhos muitas vezes o feriram sem que ela percebesse. Ela contava ao cravo que o vagalume era uma descoberta de amigo enviado por Deus pra lhe ensinar que apesar das diferenças era possível construir tão linda amizade. Mas queixava-se que sua luz as vezes não o permitia enxerga-la como ela era. O cravo rezou naquela noite para que as almas dos dois bons amigos se encontrassem e procurassem entender que as vaidades do perfume da rosa e da luz do vagalume estavam os fazendo perder um tempo precioso e divino de sua existência. E que se houvesse verdade na história que a lua os banhasse com a sua luz prateada e os fizesse menos orgulhosos e mais amorosos. Passou-se a primavera, algumas pétalas da rosa caiam como lágrimas no chão naquele dia seco do verão e ela escutou um barulho.Olhou para baixo e era ele esforçando-se para levantar uma das pétalas caídas. Voou e como se tentasse colar novamente, colocou sobre o miolo da rosa despedaçada a pétala umedecida com as lágrimas de ambos que apenas ficaram em silencio um ao lado do outro. Já velhos amigos, não pediram explicações, não fizeram acusações – porque a saudade era maior que as mágoas.Apenas relembraram as conversas sob a lua que com a noite chegava para testemunhar que ali reinava a verdade da amizade, que ali reinava a lição que o tempo é o melhor conselheiro e reinava a força da vida espiritual – que se faz e refaz quando existe luz e amor.”
anacarolinacaldas pra sobrinhos queridos....