5 de abr. de 2007


Todo sábado tinha Chico lá em casa!


Fui com meus pais no show do Chico, nesta quarta feira, no Teatro Guaira. Essa foi a combinação perfeita. Meus pais e o Chico. Primeiro os meus pais - são as pessoas mais iluminadas e intensas que eu conheço. Os dois tem os olhos sempre brilhando cheios de amor e compaixão. Os dois andam juntos ainda se aventurando, aprendendo e amando a vida. E o Chico? Foi com eles que aprendi a me encantar com o Chico Buarque.

Foi inevitável a choradeira. Passou um filme todinho da minha infância. Eu lembrei dos sábados na minha casa. Janelas abertas, cheirinho de café na cozinha e lá na sala bem alto eles já tinham colocado o Chico pra tocar. Sim, era desse jeito que a gente começava o sábado. Eu, minhas duas irmãs e meu irmão.

Lembrei também de um dia frio e minha mãe, creio desesperada com tanta criança em casa. Mas ela, nossa professora, sempre dava um jeito de inventar alguma brincadeira. E naquele dia colocou o disco Saltimbancos pra tocar e depois propôs: ”Vamos brincar de teatro!? Vamos fazer Saltimbancos?”. Ensaiamos, decoramos e depois noite adentro repetimos não sei quantas vezes a peça.

Depois da  infância nós começamos a entender algumas conversas dos meus pais e também entendemos alguns significados das músicas do Chico. Ditadura, exílio, entre outros. Participei do Movimento Estudantil e as músicas da infância estavam ali me fazendo entrar no encantamento do sonho revolucionário de mudar o mundo. Ah.. como cantei o "Apesar de Você" quando estava “contra atacando” os inimigos da democracia, do socialismo...Diga-se de passagem, minha música preferida.

Quantas vezes nossa mãe nos viu – nós meninas de casa – românticas assumidas, chorando pelos amores perdidos ou pelos amores vividos embaladas pela “Todo sentimento” ou “Futuros Amantes”. E como é sempre muito engraçado ouvir o meu pai dizer “Sou o cara mais corno manso que existe”, quando a minha mãe suspira ao ver o Chico...

Ah! Como foi bonito no show, eu de vez em quando de rabo de olho, espiar a minha história ao lado sentada comigo e ali na frente... no palco. Eu chorei tanto porque tudo aquilo tem o cheiro da minha casa, da gente toda reunida, do barulho dos meus irmãos, das músicas, do meu pai sentadinho na frente da vitrola (isso mesmo: vitrola!) escutando e cantando, da minha mãe de um lado pro outro arrumando a casa e cuidando de todo mundo. Enquanto o Chico andava por lá embalando os nossos sábados, os nossos laços, a nossa vida...

Exagero? Não... não é não. Só saudades.



autoria: anacarolinacaldas

8 comentários:

Anônimo disse...

Que lindo ,filha! Como é bom pra nós pais -ficar sabendo o que realmente os filhos pensam da educação q.eles receberam.Mas o mérito é de voces - porque voces sempre foram receptivas ao que nos tentavamos ensinar. Tudo seria em vão se vcs.não fossem pessoas especiais como são.Cada um na sua maneira de ser - mas todos - pessoas maravilhosas. Nos,pais, fizemos o máximo que a nossa capacidade permitia.Beijos.Voce nos fez muito feliz.

zanei disse...

Achei o texto lindo. E não é porque o Chico fez parte da minha juventude direcionando minha energia revolucionária com suas músicas a um alvo digno, a ditadura, mas porque suas lembranças de infância lembram os aconchegos de quem um dia também foi criança e também os teve. Inevitável a emoção.

Anônimo disse...

Ana, fiquei arrepiado...

Lindo texto e linda história.
Simplesmente sublime, de verdade!

carla cursino disse...

Oi,Ana!
Li a matéria sobre seu blog na Gazeta do Povo e resolvi conferir. Bem legal, viu?! Textos intensos, verdadeiros...

Anônimo disse...

Ana,

Teu texto está mto bom, carregado de sentimento, tocante, bem escrito mesmo.

Parabéns. Feliz de quem tem boas lembranças pra recordar.

Abs.

Bardou

Anônimo disse...

Senti estar no guaíra, tomando um café e jogando prazer pra fora. Vc foi mt feliz em ter escutado Chico na infância...

abração com saudades,

Tedesco

Anônimo disse...

vi a reportagem da gazeta, muito legal por isso resolvi entrar.
espero que possamos manter contato.

Anônimo disse...

...adorei
sabe , sempre que leio Dalton Trevisan eu lembro da casa de minha vó... até sinto o cheiro de café e ovos mexidos no fogão...
bjosss