7 de out. de 2007


SUA VACA!

(E A IDENTIDADE CULTURAL DE CURITIBA)



Não sei qual é a opinião de vocês sobre a Cow Parade, que marcha ao redor do mundo em busca de atenção, reivindicando o direito inerente a toda vaca de , sei lá... ter tetas?


Mas, o fato é que, a breve e falida passagem da parada de vacas por Curitiba em outubro passado, foi em uma palavra singela apenas em Portugal, nada mais que a primeira sílaba do nome da nossa amada vila feliz.

Quem viu, concorda que foi um desastre em idéias e falta de humor na busca em expressar uma identidade cultural da cidade ou de seus habitantes, que fosse além do óbvio – é afinal de contas uma parada de vacas, oras.


Mas, talvez o mais engraçado era ver a reação das pessoas às vacas: ninguém sabia muito bem que fazer com elas ou na presença delas ou porque elas existiam. E as vacas viraram um elefante branco: “Não olhe agora, mas tem uma vaca sentada no aeroporto...”
E nessa vaca lia-se: Leite Quente.
E assim, ninguém viu as vacas, fingimos curitibanamente que elas nem estavam ali.

Boas idéias foram preteridas a outras de valor questionável.


A vaca do nosso amigo Marcucho, sentada com sua cara de paciência bovina a esperar ao lado de um telefone com uma plaquinha dizendo COW ME era a minha preferida entre todas as que não foram feitas. A vaca pintada de roxo que hoje reside no Museu do Olho é a que eu mais odeio. Tipo, hãh?

E o final triste dessas vacas Curitibanas é que, ao fim de sua apresentação esdrúxula sob olhares indiferentes da população, elas foram empurradas para longe e ficaram por meses encurraladas e ao relento em abandono no pátio do Moinho Rebouças da Fundação Cultural de Curitiba (a mesma que deixou o Cine Ritz e a Confeitaria das Famílias fechar) esperando para serem compradas em Leilão Beneficente: Salve uma vaca e uma criancinha ao mesmo tempo!
Bem, nenhuma delas, nem as vacas nem as criancinhas foram salvas, pois nenhum rei do gado cultural foi encontrado para fazer bater o martelo.

Mas as vacas são foda e seguindo sua natureza, elas não desistem! Engolem tudo!


Talvez seja por isso que a melhor tradução de “bitch” para o português seja mesmo “vaca”: porque as duas espécies vão longe até não dar mais.


Pois bem, as vacas em questão seguiram vacarosamente até o Rio de Janeiro e lá estão, em pastos mais fáceis, onde o sistema de pastejo cultural rotativo dá liberdade para que as mesmas passem seus dias ao sol, importunando o Drummond em seu banco, servindo de playground no calçadão de Copacabana para criancinhas curiosas, posando de biquíni e fazendo topless de tetas no posto 9 em Ipanema - direito conquistado anteriormente por outras vacas e ainda usado por muitas!

E essa aporrinhação toda que escrevi aqui meus amigos, é nada mais que a pergunta que não quer calar em mim, toda vez que algum outro evento cultural de peso acontece nessa cidade:
Afinal de contas, qual é a nossa identidade cultural?


E penso que enquanto não a acharmos, não vai adiantar sermos expostos a outros eventos culturais relevantes ou mesmo de vanguarda, TIM Festivals, Festivais de Teatro e outros Jum Nakaos que exponham no MON: porque ainda não vamos ter nos reconhecido o suficiente para pararmos de lançar nosso olhar de estrangeiros sob nós mesmos. E assim poder basear o nosso olhar em alguma outra coisa que a sensação de sempre estarmos abanando de longe em simpáticas boas vindas e aplausos rasgados a culturas que nos visitam em nossa própria casa, mas as quais não conseguimos conceber, elaborar internamente ou sequer nos divertir com elas.








AUTORIA:anacarolinacaldas/ do amigo Antonio Thieme

Um comentário:

Anônimo disse...

A identidade sem tetas!

muito bom

saudades do jornalismo!

bjos